12.9.10

em potência, por favor incomodar.

É assim. Sou assim. Tenho angústias, neuroses, medos desmesurados e inseguranças do mesmo tamanho. Mas também tenho pequenos dias (e 24h já é muito, muito tempo) de pura harmonia (comigo e, como tal, com o mundo), aceitação, força e fé. E gosto dos meus medos porque significam que vivo e que penso nas coisas. Gosto dos meus copos das secretárias cheios de lápis, canetas, pincéis, borrachas, flores de esponja, madeira e de palhinha de caipirinha que me ofereceram há uns bons anos, com uma pena de águia encontrada numa quinta clandestinamente invadida, colheres de alguns dos muitos My Swirls que já me reconfortaram, lápis sanguínea, tintas da china, elásticos castanhos que vim a coleccionar inconscientemente desde o início da faculdade, alfinetes e clips, canetas feitas de tronco de árvore de algures da África do Sul, uma tesoura partida e um pequeno estandarte com palavras queridas de uma época que tanto me marcou (não sei se bem, se mal...). Não gosto de revisitar o passado, não olho para trás. Nem sei se gosto assim tanto de ver fotografias minhas antigas. Depende das fotografias, depende de qual a vida que vivia e da vida que vivo agora. Gosto da minha extrema e exagerada dedicação aos pequenos-almoços, e ao tempo que dedico às suas diversificações, e do meu ritual matinal. Gosto de ver os livros a acumular na minha mesinha de cabeceira e faço questão de escrever a data neles para poder admirar daqui a muitos anos o que li quando tinha 17 e 18 e 19, e para que quando os meus filhos os forem ler sorriam quando virem o meu nome e a data e a minha letra escritos na primeira folha. Adoro quando, no meio de tantas frases feitas e re-feitas que andam por aí, que deviam dizer tanto e não dizem nada, de repente deparar-me com uma que me deslumbra e que me fica na cabeça sem que tenha de me esforçar por isso. E adoro quando, no meio de tantas músicas bonitas mas todas iguais que andam por aí, de repente deparar-me com uma que me deslumbra e que me fica na cabeça sem que tenha de me esforçar por isso. Gosto de ver defeitos de família em mim e odeio ver defeitos de família em mim. Gosto do facto de conseguir ter sempre flores frescas na jarra do meu quarto. Adoro a minha pequena horta cheia de ervas aromáticas e de passar tempo a ver quais as melhores combinações para um ovo escalfado, um frango assado ou uma massada de peixe. Amo os meus pais, não tenho mesmo razões de queixa (razões de jeito, pelo menos, depois há as outras). Gosto de ver na cara de um amigo a satisfação de estar ali comigo assim, sendo apenas nós. Não há nada melhor (apenas uma força de expressão) que ficar cem por cento satisfeita com um trabalho. Gosto das minhas ninharias e gosto de ver que são respeitadas. Gosto de ver que há coisas que conseguimos sim mudar. Não gosto assim tanto da minha fácil desconcentração, não gosto mesmo nada, e nas férias só piora. Gosto que me digam "faz mais!" quando provam a minha tarte de maçã e amoras silvestres. Ai, adoro frutos silvestres. A bem dizer, adoro fruta. E quando encontro um livro ou um filme que me apertam o coração ou me tiram horas de sono? Também não há nada melhor. Odeio a minha procrastinação, e odeio saber que é um defeito cujas consequências não posso culpar ninguém senão a mim. Adoro fotografia e adoro desenhar. Odeio ser obrigada a desenhar. Adoro coleccionar. Não gosto de não saber falar melhor e de não conseguir memorizar palavras raras e bonitas. Gosto da luz da madrugada de Lisboa em Sta. Luzía e do lusco-fusco em Sta. Catarina. Adoro o miradouro do mocho (obrigada Rui). Adoro ter sítios que são só meus e de mais uma pessoa. Não gosto dos meus defeitos, mas também não gosto que me digam para os corrigir (possivelmente outro defeito). Gosto de Portugal mas quero viver fora assim que puder. Adoro a minha mala de couro e o seu cheiro a camelo que já se entranhou nas minhas narinas. Também não há nada melhor que gelado. E chocolate. Mas não gosto das duas coisas juntas. Levo tudo demasiado a sério,e também sei que não é a primeira vez que aqui o escrevo. Não gosto muito de sair à noite. Mas gosto dançar nos meus bares preferidos ou de ter um moscatel na mão e conversar com as minhas pessoas preferidas. Não gosto de sentir a necessidade e ansiedade frequente de afecto, de abraços, respirações próximas e mãos dadas. Adoro a mazurca (calma), é a melhor música de sempre para dançar com quem amamos (se bem que quem amamos tem de a saber dançar. Gosto de ser abordada para conversar, passear, tomar um chá gelado ou mesmo para saber onde fica o metro do Chiado. Gosto de já conseguir compreender coisas que não conseguia há um ano atrás. Gosto do meu cabelo comprido e não o vou cortar tão cedo. Gosto de estar aqui a ocupar o tempo a ver como sou e aperceber-me que não é tão mau assim, pelo contrário. Não vivo por nenhuma religião, sei que nunca irei viver e gosto disso. Tenho a minha fé, os meus deuses as minhas crenças, gosto disso e chega-me. Não tenho medo de morrer, mas também só quero aconteça daqui a cem anos. E quero ser cremada porque acho horrível apodrecer debaixo de terra, com bichos e tudo mais. e acho imensa piada haver pessoas que neste momento me devem achar a pessoa mais mórbida do mundo. Tenho o desgosto de não poder assistir ao concerto da melhor banda de sempre (ainda que óbvio, para quem não sabe, refiro-me aos Beatles). Adoro a Biodanza e gostava que toda a gente experimentasse. Gosto de andar pelo supermercado e ver os produtos todos. Quero casar-me em Seteais ou num castelo renascentista francês como o de Chaumont-sur-Loire. Não gosto de contar trocos. Odeio, odeio, odeio filas e esperas. E quando toco neste assunto tenho tendência para começar a escrever tudo o que mais me irrita e não gosto, mas como é muita coisa (porque eu também não gosto de ser uma pessoa muito irritável) prefiro parar por aqui. Adoro gatos e a personalidade dos gatos. Se pudesse ser um animal seria um gato. Ou um chimpanzé. Adoro as aulas e o ritmo dos frenéticos 9 (ou serão 10?) meses, sempre com algo para fazer, sempre com algum sítio para estar. E amanhã tenho fotografia às oito horas da manhã e tenho de fazer uma lista do que preciso levar, vestir e comer ao pequeno-almoço. Até à próxima.

1 comentário:

M. disse...

Gosto da vida que dás à vida. Keep it and improve always.
M.