30.7.10

"Hay un amigo en mi"






















Como hei-de dizer isto?
Saí da sala com uma dor de cabeça descomunal de rir e chorar tanto num espaço pouco mais de duas horas. Para não falar no descontrolo de baba e ranho nas cenas finais do filme
Está espectacular.

29.7.10

Ele há coincidências!

Ao meu lado uma mãe fornecida de toalhitas troca de fralda à filha quando uma caca de pássaro cai a meio centímetro dos meus calções brancos.

Deixo-vos com isto que agora vou ver o Toy Story.

Dia de costura #4

Ratatouille


27.7.10

ando com falta de acasos, por acaso. Ou isso ou secalhar sou cega (e surda e muda).

14.7.10

devorados

"Nas línguas em que a palavra compaixão não se forma com a raiz «passio = sofrimento» mas com o substantivo «sentimento», a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etimologia banha a palavra de uma outra luz e dá-lhe um sentido mais lato: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com o outro não só a sua infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria, angústia, felicidade, dor. Esta compaixão (no sentido soucit, wspolczucie, Mitgefüh, medkänsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.
Sonhando que estava a enfiar agulhas por baixo das unhas, Tereza traía-se a si própria porque revelava a Tomas que mexia às escondidas nas suas gavetas. Se fosse outra mulher, nunca mais lhe dirigiria palavra. Consciente disso, Tereza dissera-lhe: «Põe-me na rua!» Ora, ele não só não a tinha posto na rua como lhe pegara na mão e beijara a ponta dos dedos, já que, nesse momento, sentia a mesma dor que ela por baixo das unhas, como se os dedos de Tereza estivessem directamente ligados ao seu cérebro."

Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser



Num daqueles dias, quando compareci ao encontro com a María José, ela perguntou-me porque razão a perseguia. Assegurei-lhe de que se tratava do que faria se fosse morrer no minuto seguinte. Continuámos a andar em silêncio até que ela se voltou para mim e disse com crueldade:
-Tu não é interessante para mim.
Eu continuei a andar ao seu lado, mas do mesmo modo que um frango sem cabeça continua a voar, ou seja, morto. Aquela frase partiu-me literalmente o coração. Uma faca ferrugenta não teria tido efeitos mais devastadores. Continuei, pois, a andar, por pura inércia até à casa dela e depois prossegui até à minha sabendo que não era necessário imaginar que ia morrer no minuto seguinte porque já estava morto. Entrei morto em casa e consegui chegar, morto, à casa de banho para ocultar a trágica situação à família. Ao olhar-me ao espelho reconheci no meu rosto todos os atributos de um cadáver. Tinha o nariz afilado e o rosto pálido como a cera. Sabia que o nariz afilado era um sintoma cadavérico porque o ouvira dizer à minha mão a propósito de uma fotografia do cadáver de Pio XII no jornal. Ela disse «nariz afilado» e «rosto cerúleo». Assim estava eu à frente do espelho, com o nariz afilado e o rosto cerúleo. Não se tratava de a vida ter perdido o sentido, é que já não havia vida."

Juan José Millás, O Mundo



Se não leram, leiam. E se, por alguma razão, não for a altura certa para os ler, porque há uma altura certa para ler um livro, tentem mais tarde, tal como fiz com o primeiro.