22.6.10

o peso do acaso

Despreguei os olhos do livro à procura de algo, do acaso. Procurei por Beethoven, pelo homem a ler o livro e o copo de aguardente mas não encontrei nada. Estava no comboio mas não encontrei acasos coincidências nada. Vi um homem gordo a ler o jornal, uma rapariga muito maquilhada a jogar sudoku, lá fora um judeu - sei que o era porque tinha um kipá - e a sorrir à minha frente um senhor muito preto com umas gengivas muito brancas. Não era a empregada de mesa mas era a rapariga do comboio de batom vermelho-alaranjado que lia um livro e não se deu acaso nenhum. Não havia homem nenhum com livro e a minha cabeça estava desprovida de qualquer som. Só pensava em Tomas, Tereza e no chefe de Tomas que teve ciática. Os acasos não se procuram, é verdade.
Continuo com o batom vermelho-alaranjado. Agora desenho de pés descalços, vejo crianças, duas velhas de chapéu preto e ouço Vivaldi, vá-se lá saber porquê. Vivaldi foi o primeiro CD de música clássica que me ofereceram.

1 comentário:

Maria disse...

Vivaldi é bom. Muito bom, mesmo.

:)