28.9.10
25.9.10
agarra que é viciado
Quando à tarde, de volta a casa do cura, nos assentámos à mesa para tomar leite, a conversação caíu nos pesares e nas alegrias da vida. Então aproveitando o ensejo, não poupei recriminações aos homens de temperamento melancólico.
- Estamos continuamente a lamentar-nos por termos tão poucos dias bons e tantos maus: mas na minha opinião, queixamo-nos infundadamente. Se a nossa alma estivesse sempre aberta ao gozo da felicidade que Deus nos concede, teríamos depois a força necessária para suportar o mal quando se nos apresentasse.
- O pior - disse a mulher do pastor - é que não temos o coração nas mãos. Há coisas que dependem do corpo. E quando o corpo enferma a alma adoece também.
Concordei.
- Mas, nesse caso - acrescentei em seguida - devemos procurar aplicar qualquer remédio.
- Sou de igual parecer - disse Carlota. - Pelo menos, julgo que muito se pode obter por nossa própria iniciativa, e digo-o por experiência própria. Quando qualquer coisa me inquieta ou entristece, levanto-me de onde estou, vou dançar até ao jardim, canto duas ou três árias... e era uma vez o desgosto!
-Era exactamente isso que eu queria dizer - confirmei. - Acontece com a má disposição de espírito o mesmo com a preguiça, visto que temos para esta, tendências naturais; mas se temos força para reagir e nos reanimamos, o amor ao trabalho vence e achamos que a actividade nos dá um grande gozo.
Frederica ouvira-me lentamente; Schmidt objectou novamente que ninguém pode ser senhor de s próprio nem dominar as próprias sensações.
Repliquei:
- Aqui trata-se de um sentimento desagradável, de que cada um deve querer defender-se; e quanto às forças morais, ninguém conhece até onde chegam as suas, antes de as experimentar. O desejo de um doente não será consultar todos os médicos, acatar e cumprir-lhes as prescrições, submeter-se ao seu tratamento por mais rigoroso que seja, para recobrar a saúde perdida?
Notei neste ponto que o pai de Frederica se esforçava por não perder as minhas palavras. Para que me ouvisse melhor, levantei a voz e prossegui, voltando-me para ele:
- Não falta quem pregue contra os vícios da humanidade; mas nunca ouvi que no púlpito alguém condenasse o mau humor.
-É aos que pregam nas cidade que compete fazê-lo - disse o velho. - Os homens do campo não sabem o que seja o mau humor; contudo, não seria talvez inútil pregar-lhes um desses sermões de tempos a tempos; pelo menos sempre seria uma lição para a minha mulher e para o nosso bailio.
Todos se riram do gracejo, e até ele próprio se riu também com gosto, a ponto de ser acometido de um forte ataque de tosse, que nos obrigou a interromper a conversação durante uns momentos.
Por fim Schmidt retomou a palavra:
- O sr. Werther chamou ao mau humor um vício. Parece-me um tanto exagerado.
- Um vício, sim, nada menos - respondi eu - se esse nome se pode dar ao que nos prejudica a nós e ao nosso próximo. Acaso não baste a impossibilidade em que nos encontramos de nos tornarmos mutuamente felizes? Será ainda necessário destruirmos uns ao outros os poucos prazeres que nos é permitido gozar? Mostre-me um homem de mau humor corajoso bastante para ocultar a sua melancolia, carregando sozinho o peso dela, para não perturbar a alegria dos que o rodeiam; não será antes um despeito interior da nossa própria insuficiência, um descontentamento de nós mesmos, sempre aliado à inveja excitada por uma louca vaidade? Não há ninguém que possa encarar com gosto a felicidade alheia quando essa felicidade não for obra nossa.
Carlota sorriu-se do calor que eu tomava na discussão, mas duas lágrimas que brilharam nos olhos de Frederica impeliram-me a continuar:
- Mal daqueles que abusam do predomínio que exercem sobre um coração puro para o privarem dos mais simples prazeres que por si gozaria! Não há dádivas nem favores que possam compensar essa felicidade, envenenada pela invejosa e cruel fantasia de um tirano! (...)
Werther, Goethe
24.9.10
Que estado é este em que me encontro? Que estado é este que me formata o cérebro a 50% de consciência, incapaz de controlar o que me sai da boca, e dos olhos, e da mente? Que me deixa frágil ao ponto de deixar que qualquer um me reduza a nada, e que por conseguinte, me deixa reduzir-me a nada? E eu que quero tanto mudar o mundo, dói-me o rabo de estar aqui sentada e nem sequer sou capaz de me levantar da cadeira. Um mero gesto como levantar o rabo da cadeira de verga que me está a marcar toda.
17.9.10
16.9.10
Punctum
Uma casa caída, cinzenta, gasta. Dir-se-ia mesmo sem vida, ou não fosse aquele vaso de flores, que se nota que é de gente cuidada, pendurado na pequena varanda de ferro oxidado.
12.9.10
em potência, por favor incomodar.
É assim. Sou assim. Tenho angústias, neuroses, medos desmesurados e inseguranças do mesmo tamanho. Mas também tenho pequenos dias (e 24h já é muito, muito tempo) de pura harmonia (comigo e, como tal, com o mundo), aceitação, força e fé. E gosto dos meus medos porque significam que vivo e que penso nas coisas. Gosto dos meus copos das secretárias cheios de lápis, canetas, pincéis, borrachas, flores de esponja, madeira e de palhinha de caipirinha que me ofereceram há uns bons anos, com uma pena de águia encontrada numa quinta clandestinamente invadida, colheres de alguns dos muitos My Swirls que já me reconfortaram, lápis sanguínea, tintas da china, elásticos castanhos que vim a coleccionar inconscientemente desde o início da faculdade, alfinetes e clips, canetas feitas de tronco de árvore de algures da África do Sul, uma tesoura partida e um pequeno estandarte com palavras queridas de uma época que tanto me marcou (não sei se bem, se mal...). Não gosto de revisitar o passado, não olho para trás. Nem sei se gosto assim tanto de ver fotografias minhas antigas. Depende das fotografias, depende de qual a vida que vivia e da vida que vivo agora. Gosto da minha extrema e exagerada dedicação aos pequenos-almoços, e ao tempo que dedico às suas diversificações, e do meu ritual matinal. Gosto de ver os livros a acumular na minha mesinha de cabeceira e faço questão de escrever a data neles para poder admirar daqui a muitos anos o que li quando tinha 17 e 18 e 19, e para que quando os meus filhos os forem ler sorriam quando virem o meu nome e a data e a minha letra escritos na primeira folha. Adoro quando, no meio de tantas frases feitas e re-feitas que andam por aí, que deviam dizer tanto e não dizem nada, de repente deparar-me com uma que me deslumbra e que me fica na cabeça sem que tenha de me esforçar por isso. E adoro quando, no meio de tantas músicas bonitas mas todas iguais que andam por aí, de repente deparar-me com uma que me deslumbra e que me fica na cabeça sem que tenha de me esforçar por isso. Gosto de ver defeitos de família em mim e odeio ver defeitos de família em mim. Gosto do facto de conseguir ter sempre flores frescas na jarra do meu quarto. Adoro a minha pequena horta cheia de ervas aromáticas e de passar tempo a ver quais as melhores combinações para um ovo escalfado, um frango assado ou uma massada de peixe. Amo os meus pais, não tenho mesmo razões de queixa (razões de jeito, pelo menos, depois há as outras). Gosto de ver na cara de um amigo a satisfação de estar ali comigo assim, sendo apenas nós. Não há nada melhor (apenas uma força de expressão) que ficar cem por cento satisfeita com um trabalho. Gosto das minhas ninharias e gosto de ver que são respeitadas. Gosto de ver que há coisas que conseguimos sim mudar. Não gosto assim tanto da minha fácil desconcentração, não gosto mesmo nada, e nas férias só piora. Gosto que me digam "faz mais!" quando provam a minha tarte de maçã e amoras silvestres. Ai, adoro frutos silvestres. A bem dizer, adoro fruta. E quando encontro um livro ou um filme que me apertam o coração ou me tiram horas de sono? Também não há nada melhor. Odeio a minha procrastinação, e odeio saber que é um defeito cujas consequências não posso culpar ninguém senão a mim. Adoro fotografia e adoro desenhar. Odeio ser obrigada a desenhar. Adoro coleccionar. Não gosto de não saber falar melhor e de não conseguir memorizar palavras raras e bonitas. Gosto da luz da madrugada de Lisboa em Sta. Luzía e do lusco-fusco em Sta. Catarina. Adoro o miradouro do mocho (obrigada Rui). Adoro ter sítios que são só meus e de mais uma pessoa. Não gosto dos meus defeitos, mas também não gosto que me digam para os corrigir (possivelmente outro defeito). Gosto de Portugal mas quero viver fora assim que puder. Adoro a minha mala de couro e o seu cheiro a camelo que já se entranhou nas minhas narinas. Também não há nada melhor que gelado. E chocolate. Mas não gosto das duas coisas juntas. Levo tudo demasiado a sério,e também sei que não é a primeira vez que aqui o escrevo. Não gosto muito de sair à noite. Mas gosto dançar nos meus bares preferidos ou de ter um moscatel na mão e conversar com as minhas pessoas preferidas. Não gosto de sentir a necessidade e ansiedade frequente de afecto, de abraços, respirações próximas e mãos dadas. Adoro a mazurca (calma), é a melhor música de sempre para dançar com quem amamos (se bem que quem amamos tem de a saber dançar. Gosto de ser abordada para conversar, passear, tomar um chá gelado ou mesmo para saber onde fica o metro do Chiado. Gosto de já conseguir compreender coisas que não conseguia há um ano atrás. Gosto do meu cabelo comprido e não o vou cortar tão cedo. Gosto de estar aqui a ocupar o tempo a ver como sou e aperceber-me que não é tão mau assim, pelo contrário. Não vivo por nenhuma religião, sei que nunca irei viver e gosto disso. Tenho a minha fé, os meus deuses as minhas crenças, gosto disso e chega-me. Não tenho medo de morrer, mas também só quero aconteça daqui a cem anos. E quero ser cremada porque acho horrível apodrecer debaixo de terra, com bichos e tudo mais. e acho imensa piada haver pessoas que neste momento me devem achar a pessoa mais mórbida do mundo. Tenho o desgosto de não poder assistir ao concerto da melhor banda de sempre (ainda que óbvio, para quem não sabe, refiro-me aos Beatles). Adoro a Biodanza e gostava que toda a gente experimentasse. Gosto de andar pelo supermercado e ver os produtos todos. Quero casar-me em Seteais ou num castelo renascentista francês como o de Chaumont-sur-Loire. Não gosto de contar trocos. Odeio, odeio, odeio filas e esperas. E quando toco neste assunto tenho tendência para começar a escrever tudo o que mais me irrita e não gosto, mas como é muita coisa (porque eu também não gosto de ser uma pessoa muito irritável) prefiro parar por aqui. Adoro gatos e a personalidade dos gatos. Se pudesse ser um animal seria um gato. Ou um chimpanzé. Adoro as aulas e o ritmo dos frenéticos 9 (ou serão 10?) meses, sempre com algo para fazer, sempre com algum sítio para estar. E amanhã tenho fotografia às oito horas da manhã e tenho de fazer uma lista do que preciso levar, vestir e comer ao pequeno-almoço. Até à próxima.
3.9.10
31.8.10
21.8.10
13.8.10
para agora amor, o sol
Olá
Ouvi este poema hoje de manhã na rádio (o autor morreu). Bonito, não é?
Ouvi este poema hoje de manhã na rádio (o autor morreu). Bonito, não é?
Bjs para os meus queridos.
O sol o sul o sal
as mãos de alguém ao sol
o sal do sul ao sol
o sol em mãos do sul
e mãos de sal ao sol
as mãos de alguém ao sol
o sal do sul ao sol
o sol em mãos do sul
e mãos de sal ao sol
O sal do sul em mãos de sol
e mãos de sul ao sol
e mãos de sul ao sol
um sol de sal ao sul
o sol ao sul
o sal ao sol
o sal o sol
e mãos de sul sem sol nem sal
o sol ao sul
o sal ao sol
o sal o sol
e mãos de sul sem sol nem sal
Para quando enfim amor
no sul ao sol
uma mão cheia de sal?
no sul ao sol
uma mão cheia de sal?
Poema “O Sul”. In: Ruy Duarte de Carvalho. A Decisão da Idade. Luanda, União dos escritores Angolanos, 1976, p.5.
(pela mãe)
10.8.10
6 camadas
Trifle de frutos silvestres
(sim eu fui ao Andanças e parte de mim ainda acha que está lá. Pelo menos a parte sentada no colchonete no jardim. Mas não me apetece falar disso. Só quero dizer que toda eu estou maravilhada, renovada, encantada, feliz.)
30.7.10
"Hay un amigo en mi"
29.7.10
Ele há coincidências!
Ao meu lado uma mãe fornecida de toalhitas troca de fralda à filha quando uma caca de pássaro cai a meio centímetro dos meus calções brancos.
Deixo-vos com isto que agora vou ver o Toy Story.
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